A Luísa e o resto da canalha a quem estava atribuído o pastoreio naquele canto rasgado de Trás-os-Montes, costumava abalar atrás das cabras e do tio Jerónimo seguindo os caminhos e o nome da sua província.
Todos gostavam do velho e o mais normal era as cabras pastarem e eles lançarem uma corda com uns nós, a um galho grosso, que vinham a ser o selim que o tio Jerónimo punha a balouçar. Ou onde ele mesmo por vezes se sentava deixando as crianças sacudirem o riso...
Foi pois normal que quando o velho morreu todos os miúdos achassem que deviam ir ao enterro.
Não se tinha medo dos mortos nas aldeias. Morria-se ali ao lado nos quartos e nas camas dos velhos cansados. E este cheiro como o da fertilidade dos campos fluía pelas narinas desde tenra idade.
Estava tudo mais ou menos bem, despediam-se do tio Jerónimo junto da terra escavada.
O que a Luísa não esperava era que a uma pazada do coveiro lhe fizesse saltar aos pés um crânio inusitado que ao aterrar rachou, deixando escapar o visco pelas frestas recém abertas.
A miúda era franzina mas rija, mas de um vigor físico que de nada podia para com esta visão sobranceira.
Ficou de cama vários dias e diz-se que já estava prontinha. Perguntem-lhe como se safou...
© José Vicente
Tuesday, October 3
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