© José Vicente

Tuesday, October 25

I always contradict myself

No início desta sessão devo relembrar as virtudes do civismo.

Recomendar-lhes moderação no vernáculo, discrição na marmelada e cuidados com as apropriadas posições do corpo.

EXT. RUA DESERTA/CIDADE - ANOITECER
Um camião passou.
Um camião apenas num plano.
Daqueles com espinha e vértebras salientes. No pano. Não o plano.

De lona verde suja justa ao esqueleto.
Existem palavras brancas anunciadas no seu dorso. Mas não são inteligiveis mais que algumas letras.

INT. COCKPIT - ANOITECER
O homem que o conduz já não se lembra de onde vem. Apesar de não pensar nisso...
Mas é quando não pensa que se angustia.
A angústia da escolha inconsciente que faz o pensamento.
Bem e mal.

Dirá a si próprio as coisas não serem tão simples. Nada ser preto ou branco.
Definitivamente indefinido.

O homem incendeia finalmente um rolo de tabaco.
Agora com decisão na voz e nos silêncios, nas palavras e nas pausas correctas, reafirma a sua jornada:

Este é um passo à frente
se te lembrares dos que já deste.

Ou um lagarto seco
da velhice
a segredar-te o que não leste
porque não está escrito.
Sussurros antigos
como o lagarto que os sopra
e a tua cartilagem morta
por absorvê-los com pena.

Decair num estado concreto
côr do único verso

EXT. RUA DESERTA/CIDADE - ANOITECER
O camião está parado.
A lona verde é fustigada pelo vento e ouvem-se brandais a bater no mastro metálico.
O homem obedece às ordens.
Da escuridão interior na caixa, a lona rasga-se ao meio e o homem exibe o seu recheio.
Observa um homem fardado e com a face tapada pela sombra da pala.

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